Deveríamos incentivar pessoas próximas a fazerem perguntas, e te digo por quê
Às vezes é um saco ter que lidar com perguntas que parecem óbvias feitas em momentos que talvez você não queira responder nada. "Isso daí com 2 cliques você acha a resposta no Google!". Mas para pra pensar um pouquinho: se o Google é uma empresa do mal, pronta pra roubar nossos dados, afastar respostas de pessoas reais e difundir inteligência artificial alucinante, por que jogaríamos alguém na teta de uma big tech quando podemos simplesmente responder (levando em consideração as ocasiões que nós sabemos as respostas)?
Sinceramente, ninguém precisa perguntar mais nada para ninguém. Entre Google (ou qualquer outro buscador), YouTube, TikTok, Instagram, etc, é possível achar virtualmente qualquer tipo de informação desejada, seja por pessoas reais e responsáveis, através de vídeos ou textos, ou mesmo por inteligências artificiais generativas. Basicamente, temos qualquer informação nas palmas das nossas mãos. Então, por que não deixamos a internet fazer o seu trabalho? Ou melhor, talvez a pergunta seja mesmo: o que estamos perdendo ao tratar questões dessa forma?
Será que é óbvio mesmo?
Eu tendo a discordar. Nem tudo que parece óbvio realmente é, especialmente para pessoas que, por algum motivo, não tenham afinidade com determinado assunto em questão. Citando Linux como exemplo, a separação de Gnome (ou similares) dentro do uso prático do sistema operacional para quem migra do Windows pode ser extremamente esquisito e difícil de entender, ainda que várias comparações entre distribuições Linux diferentes ressaltem também os ambientes de trabalho diferentes utilizados por cada distribuição. Dentro desse mar, por experiência minha, ficou o questionamento "mas o quê exatamente é isso de Gnome?" e nem o site oficial, nem artigos diversos, como na Wikipedia, conseguiram me responder.
Não precisamos de ninguém
Esse ponto é simples, mas se desdobra. Se a internet tem todas as respostas, não precisamos recorrer a ninguém. Nem a uma amizade, alguém que sabe muito sobre o assunto que temos dúvida, alguém da nossa família, do nosso convívio. Talvez seja bom, escapamos de incomodar e a pessoa escapa de ser incomodada, certo? Bem, cada caso é um caso. Mas se há uma constante, é que, pensando nessa pessoa imaginária, ela perde uma oportunidade de difundir o conhecimento que ela mesma passou um bom tempo adquirindo através de experiências próprias e (veja só, que ironia) fazendo questionamentos a outras pessoas (ou a si mesma, se for o caso de autodidatismo). Desenvolvendo essa linha de raciocínio, vemos que, ao menos, duas pessoas deixam de interagir socialmente e certamente você pode dizer "ei, nem toda interação social é boa!". Disso não temos controle mesmo, mas o isolamento social, produto da não-interação, também não parece ser uma recompensa necessariamente melhor.
Conhecimento com data de expiração
Talvez por termos nos habituado com os últimos 15 anos de conhecimentos diversos a poucos cliques de distância, esquecemos que uma informação pode sumir de repente, do dia para a noite, na internet. Afinal, serviços fecham, migram, se perdem. Essa pode ser uma exceção à regra, afinal de contas é comum que precisemos de alguma ajuda pontual em determinado assunto, buscamos informações e depois as dispensamos, às vezes nunca sentindo necessidade de revisitá-las. Mas onde fica guardado esse conhecimento e, principalmente, até quando teremos essa disponibilidade? Quanto tempo até derrubarem aquele site? Retirarem aquele vídeo? IAs esconderem o resultado que você queria atrás de uma muralha inútil de informações vazias?
Questionar como sinônimo de viver
Afinal, "penso, logo, existo". Mas se a informação está sempre disponível, talvez a gente nem pense, nem muito menos a absorva realmente (e aí o problema volta ao passo anterior). De qualquer maneira, o que é certo, e o que quero abordar mesmo, é como questionar faz parte da existência humana e por isso essa ação deve ser constantemente incentivada. Além do mais, novas questões pedem novas resoluções, que nos resultarão em novas questões, e por aí vai. Melhor que isso, para efeitos práticos: cada questão pode ser uma nova nuance de uma problemática já existente, para a qual pode ser difícil encontrar uma resposta específica. Isso vale pro campo filosófico e ideológico, mas é também uma questão muito prática. De repente te falam que é possível integrar X com Y indo na seção "integração" do software X, mas você não conseguiu fazer funcionar e os buscadores não te deram a resposta que você precisava. É um problema muito simples que qualquer pessoa que passou pelo processo com mais facilidade saberia responder sem precisar de prepotência e arrogância.
A internet não é mais a mesma
Não importa o quanto queiramos, a internet não é mais a mesma. Não é mais tão fácil assim encontrar o que queremos com as palavras-chave que colocamos, ainda mais se o que buscamos for um serviço gratuito de código aberto ou algo dentro daquela zona cinzenta entre a legalidade e a ilegalidade. Dependendo da pergunta que fazemos em buscadores hoje em dia, caímos em propagandas discaradas, conteúdo gerado por robôs ou artigos com interesses em promover ferramentas e serviços pagos, afastando pessoas da internet de caráter colaborativo, orgânico e artesanal. Nesse cenário, mais do que nunca, espalhar o conhecimento que temos e colaborar com outras pessoas é ainda mais fundamental.
Compartilhem seus conhecimentos, ajudem pessoas e cometam crimes (mas não sejam replyboys nem replyguels, ok?)!!