Versão genérica

Eu entendi

Agora eu entendi.
Chama Laerte, eu entendi.
Com esse prato na mão, de arroz e feijão, eu entendi.
Sempre parece que é do nada, eu acordo e to mal, por dias seguidos.
Uma indisposição, um cansaço até de mim mesmo.
Irritação com qualquer coisa, nada tá bom nunca.
Nenhum contato consegue satisfazer a solidão.
Mas agora eu entendi.
Quando eu olho pra trás e lembro que um dia um passarinho me contou
"Te deixaram pra trás e tu se enforcou".
Anos depois, foi o passarinho que me deixou.
Depois de tantas já me dizendo tchau.
Depois daquela que nem se despediu.
Na calada da noite, pegou meu amor e partiu.
E não que seja assim tão mal, a dor passa no final.
O problema é que o trauma fica, e não foi o único.
Quantas amizades não se despediram assim?
Como posso confiar que pessoas gostam de mim?
Como respirar sufocado em insegurança?
Isso ainda quero descobrir.
Pra um dia, quem sabe, viver em paz comigo mesmo.
Não viver pisando em ovos, nem agradar o mundo inteiro.
Não pensar duas vezes "passei vergonha", "será que fui grosso?".
Desatar o nó na garganta.
Não fazer com esta corda o mesmo que fiz na França.
Palavras, palavras, palavras, não só como também apenas.
Pra seguir escrevendo a vida e, quem sabe, mais alguns poemas.
Ser lápis desapontado sem me importar que a ponta nova vai me encolher.
Todo lápis se acaba, mas não antes de muito escrever.