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Filmes de histórias reais são meus maiores inimigos

2015 foi um ano esquisito na minha vida pessoal. Ensino médio havia se encerrado há pouco e tentar manter amizades vivas naquele contexto, com cada pessoa tentando crescer de forma diferente era sempre uma luta dura, isso sem falar das lutas contra mim mesmo. Enfim, lembro que acompanhei um pouco da disputa pelo Oscar naquele ano. Lógico que não lembro de tudo, faz quase 10 anos. Mas lembro que Birdman e Whiplash me impactaram de certa maneira.

Que Iñarritú é diferenciado, você provavelmente já sabe. J.K. Simmons também é um dos grandes. Mas não paro de lembrar minha sensação com Jogo da Imitação, que passou longe de ser um dos meus favoritos a concorrer pra melhor filme. Não tinha nada exatamente errado com o filme, nada muito a se apontar. É apenas pessoal: faltou alguma coisa para mim.

Corta para 2024. Passei os últimos anos esporadicamente fazendo maratonas não tão sérias para filmes indicados ao Oscar, mas é sempre frustrante ver um filme que você gostou tão pouco levar a estatueta mais importante da noite. Até por isso, parei de acompanhar tão de perto, apesar de não ter como evitar uma ou outra obra (Parasita, justamente).

Eis que agora tenho tempo, companhia e disposição. Decidi sentar com a minha conja para ver todos os 10 filmes indicados ao Oscar de 2024. Na verdade, meio sem querer, essa história começa ainda em 2023. Primeiro, fomos assistir Barbie. Depois, Oppenheimer. Assassinos da Lua das Flores completou a tríade, mas o primeiro é quem me conquistou melhor. Na verdade, saí aliviado quando acabou Oppenheimer e o filme estrelado por Di Caprio me levantou um desconforto. Não soube ainda ali o que era.

Dos restantes, obviamente fui sabendo que Maestro era baseado em uma história real, mas esse detalhe não foi um diferencial. Achei a qualidade da atuação de Bradley Cooper superior a tudo que a história tentou passar. Zona de Interesse me cativou na sinopse, mas também não foi o que eu imaginava. De novo, a sensação de algo faltante.

Hoje eu sei o que era: histórias reais costumam tirar o "tompero" que falta para um filme ser excelente para mim. Mais do que isso, muitas vezes acabam estragando tudo. Whiplash dá para ser usado de exemplo aqui. J. K. Simmons faz o personagem de um professor chato. Irritante. Não necessariamente raso, mas pronto para despertar emoções. Também não consigo imaginar contar a história de vida de alguém com um filme virtualmente sem cortes como Birdman.

Essa falta de limites em relação ao comportamento da obra e seus personagens deixa o filme caminhar livre por trilhas que não necessariamente vão fazê-lo perfeito, mas provê leques que filmes baseados em histórias reais geralmente não conseguem atingir para mim.

Afinal, contar uma história é também gerar empatia ou antipatia por seus personagens. Tudo bem, nisso Zona de Interesse é fenomenal desde que se sabe sobre o que o filme é. Não é preciso nem assisti-lo para odiar toda aquela família, por motivos óbvios. O problema, para mim, é menos esse e mais a expectativa que nutri das críticas que poderiam ter em falas, acontecimentos e personagens. E aí que mora a questão, já que, apesar de a antipatia ser gerada com sucesso, o fato de aquela família realmente ter existido provavelmente cerceou o que as atuações poderiam fazer. Ninguém quer se comprometer em fazer uma representação negativa demais de um avô, uma avó, um tio, um pai ou uma ex-modelo que foi morar na Espanha antes de passar o resto da vida nos Estados Unidos.

Maestro é outro que sofre de um problema parecido. Honestamente, não fazia ideia de quem era Leonard Bernstein. Por um lado, há uma certa dicotomia na personagem. O carisma é gigante, mas a autodestruição e quebra constante de laço afetivo com sua parceira afastam a simpatia por que é difícil compreender e repassar tudo o que tinha ali dentro através de um filme, de novo, uma limitação que uma personagem criada do zero normalmente não teria. De qualquer maneira, ver um ator se dedicando a realmente aprender a tocar um instrumento e reger uma orquestra são as partes que mais chamam a atenção ali, se sobrepondo às subjetividades de algumas cenas meio difíceis de entender (tipo aquele número musical do nada).

Meu problema com Assassinos da Lua das Flores é mais com potenciais. Tenho pouco a reclamar da personagem de Robert de Niro, mas não consegui engolir a representação de Di Caprio. Seriam necessários muitos palavrões para descrever a canalhice das ações de Ernest Burkhart. Esse é o motivo que me dá a sensação de que pegaram muito leve com a forma como ele é representado. Burro? Bobão manipulado? Faça-me o favor.

Assim como no filme Homem Branco Sofrendo com as Consequências de Seus Próprios Atos (sim, estou falando de Oppenheimer). Um cientista genial cria uma bomba, a guerra acaba sem usarem-na, mas ele está na reunião onde decidem que vão lançá-la em local X, já que outro branquelo passou a lua de mel em cidade Y e não quer que ela seja destruída. A última parte do filme é o sofrimento de uma personagem sem carisma. O que era para ser o ponto alto é um balde de água fria jogado na expectativa criada pelo próprio diretor que prometeu a maior explosão da história da tela do cinema, mas que não compensa as outras 3 longas horas de filme.

Quis apontar meus incômodos nesses 4 filmes especificamente por serem os que menos gostei dos 10 indicados a Melhor Filme em 2024. Irônico o fato de que os outros 6 receberam 36 indicações somadas, enquanto esses 4 tiveram 35. Só Oppenheimer, 13. Até nas casas de aposta a película de Nolan é favoritaça a vencer, com odd de 1.02 em Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Ator Coadjuvante (Robert Downey Jr.), além de 1.08 em Melhor Ator, 1.20 em Melhor Montagem, 1.04 em Melhor Trilha Sonora e 1.38 em Melhor Som. Eu definivitamente não sei nada sobre cinema.