Versão genérica

Nostalgia contra mim

Batman Returns (1992) talvez tenha sido o primeiro filme de herói que já vi na vida. Meu pai é um grande fã e tinha a mesma idade que tenho hoje quando o filme foi lançado. A versão de Tim Burton tem seu magnetismo, mas sempre achei meio esquisitinho visualmente e até meio assustador com aquele pinguim de Danny DeVito.

Note que abri o texto colocando um talvez. Talvez. Por que lembro mesmo é de brincar de X-Men no quintal da minha avó em Serra Talhada com meus outros 2 primos. E de assistir X-Men 2 (2003), alugado na locadora da rua principal, de novo e de novo e de novo. A Globo sempre colocava o primeiro filme da franquia pra passar nas férias e eu sempre ficava surpreso com o enredo diferente e com a presença dos vilões que não figuravam mais a sequência. Sempre pensava como era um desperdício não ter Groxo, sempre achei interessante sei lá por qual motivo (morro de medo de sapo).

Fato é que os anos se passaram, lançaram filme atrás de filme e a Marvel não é mais a mesma. O que era sinônimo de X-Men virou sinônimo de Vingadores. E mais filmes e mais séries e um cansaço tão grande que só a nostalgia poderia justificar que eu sugerisse pra conja: bora assistir a trilogia Wolverine antes de assistir Deadpool x Wolverine? Em um ato de loucura, para a minha felicidade, ela aceitou. Útil.

A surpresa grata é que foi uma experiência muito melhor do que eu imaginava. Wolverine é um personagem denso e fascinante. Da origem (pelo menos do filme), de como levou a vida, da rivalidade com Dente de Sabre (apenas pincelada em X-Men, mas tratada até como parentesco de sangue em Origins: Wolverine) e de como sofreu. O universo cinematográfico da Fox não é particularmente confiável, mas considerando que ele mata o próprio pai aos 10 anos, é enrolado pela mulher que amava depois de lutar em todas as guerras possíveis para um norte-americano de sua idade, quase é enrolado por Stryker, perde a memória e ganha familiares até contra a própria vontade, dá pra dizer que ele viveu um bocadinho.

A história de Logan é lembrar que viver é sofrer. Quase o tempo todo. É perda. É o tempo que passa. Ou talvez eu esteja pensando a fundo demais sobre quanto tempo a vida dura. O 2º filme nem merece tanto isso. Mas o dilema fica plantado e o que era só uma historinha a ser contada transborda de um lago para um oceano no 3º filme. No fim, é isso que torna tudo tão legal. O fato de ser um personagem tão interessante, tão conflituoso consigo mesmo. Um rabugento que se faz de difícil mas tem coração mole. Que tenta se afastar por que não tem mais capacidade emocional de magoar ninguém e sabe que qualquer proximidade pode levar alguém à morte.

Talvez eu tenha escrito isso ignorando demais os aspectos que não me agradaram dos filmes. Tem coisa que realmente tem pouca sustentação lógica. Exageros comuns de filmes de ação. Mas talvez seguir um pouco da fórmula datada seja a lufada que mantém esses filmes com ar fresco, longe da quadradice repetitiva e enjoativa que viraram os filmes do MCU. E talvez seja só a nostalgia trabalhando contra mim.