Sorriam!
Atenção: esse post tem spoilers de Ainda estou aqui. Prossiga com cuidado
Ainda estou aqui é o filme do momento. Eu honestamente não sabia que era uma adaptação de livro. Pior ainda, não sabia que era baseado em uma história real. Durante a exibição é que eu parei pra pensar. "Rapaz, essa história podia ter acontecido mesmo hein...". Aconteceu, seu bobão. É bom ser ignorante de vez em quando (sempre é bem ruim, mas eu dou meu jeito). Digo que é bom porque, assim, pude aproveitar a história do começo. Ir desarmado. Pra quem não sabe, filmes de histórias reais são meus maiores inimigos. Mas esse é uma grata surpresa.
A começar pela maneira como a história é contada. Praia, vôlei, altinha, cachorro! Um nome bobinho, brincadeiras. Felicidade, comunhão, positividade. A história parece ser leve. Até te lembrar que não é mais. E aí voltar a ser leve, alegre, brincalhona. E aí ela te lembra outra vez. Não é uma história leve. E os minutos seguintes vão se revelando uma angústia de nó na garganta. Uma revolta. O inacreditável.
De repente, Fernanda Torres assumiu as rédeas do filme assim como Eunice parecia ter acordado pra vida. E não tem como não enxergar de maneira até meio caricata uma parte daquilo tudo. Mãe de família, (pela maneira que o filme retrata) não trabalhava, tinha empregada, casa na beira-mar, classe média, filha na europa, escolas particulares, balé. A vida vira de cabeça para baixo e de repente é ela por ela. No banco, em casa, na faculdade, no trabalho.
A parte mais dura de assistir é a que também parece ser a mais longa. Parece uma eternidade ela presa em um quartel ouvindo gritos de torturas. A partir dali, inclusive, é difícil imaginar como um filme pesado poderia ter um final diferente daquela sensação que me deu dor de cabeça de tanto tentar segurar o choro. Mas ele consegue, porque a positividade que Eunice queria transmitir vinha também de Rubens. E talvez os filhos tenham demorado bastante pra entender. Coisa de jovem.
Também me preocupou pensar "como assim estou gostando de filme de história real?". Talvez não seja apenas um filme. Ainda estou aqui é uma entidade. Um motor ligado. É a energia de Eunice e de uma família destruída pela podridão que assolou o Brasil. Destruída, rasgada, com uma cicatriz que não se cura. Mas pessoas que, ainda assim, não deixaram de sorrir e celebrar. Que não deixaram de ter esperanças.
E o principal foi saber contar bem. Cada elemento parecia fundamental. A história não era truncada nem parecia faltar elementos. Os saltos temporais nos levam para os momentos certos. Com uma liberdade poética aqui e outra ali, o final também emociona. Facilmente o melhor filme que assisti esse ano. Um dos momento inesquecíveis de 2024 pra mim. Se não ganharmos Oscar, vai ser um assalto absurdo!