Você tá, ao menos, me ouvindo?
Um jovem com sinestesia, filho de mão imigrante, tenta lidar com as problemáticas do começo da vida adulta e com seu amor pela Música (com M maiúsculo por também ser o nome do filme). Fui assistir sem pretensão, sem saber sobre o que era e foi uma grata surpresa. Passou até uma sensação de "isso é material pra Oscar" nos primeiros 15 minutos, mas o nível do resto não acompanha.
O que não quer dizer que é necessariamente um filme ruim. É um bom filme. Sempre acho um refresco poder assistir um filme de 1h30 que conta uma história e não pretende que ela se alongue por mais dois filmes. Isto posto, vamos aos pormenores. A história do filme é contada com criatividade. Acho que cabe dizer que, ultimamente no cinema, nem todo diretor/roteirista/ator/enredo que foge ao lugar comum estadunidense é bom, mas têm sido frequentes os casos em que esses são os melhores filmes. Parasita, Anatomia de uma queda, Pobres Criaturas, Bacurau. Não são exatamente alienígenas do cinema, mas são trabalhos que pegam pinceladas do que há de melhor em Hollywood e dão um toque diferenciado.
Música faz mais ou menos isso com sua brasileiridade. E, levando em consideração o ritmo do filme, acho que até faz bem. A cultura brasileira ser representada de maneira caricata serve ao enredo situações que a frieza constante dos EUA não comportaria. Principalmente com a personagem da mãe. Também providencia cenários diferentes do que vemos em todo filme feito por lá: aproveita pra destacar uma convivência diferente dos bairros com concentração de imigrantes sem ser o de sempre (italianos com pizzas e massa, chineses vendendo Yakisoba e latinos vendendo taco).
A musicalidade dos ambientes é um elefante na sala que sai da tela pra interagir com a gente o tempo inteiro, mas não é tão fácil assim escapar do clichê. Tanto no quesito de ser um musical, mas também porque fica nítido que, apesar de muita cultura brasileira na história e nas personagens, no fim das contas é um filme feito por uma pessoa que nasceu nos estados unidos. E o que isso quer dizer? Que não dá pra escapar com facilidade do plot twist que chega sutil como um cavalo num chão de madeira. Que não dá pra escapar de um enredo também conduzido por dilemas estadunidenses (se mudar para o centro de nova iorque depois de concluir a faculdade, alugar um apartamento caríssimo e morar perto do metrô como grande objetivo de vida e ter muita dificuldade em ser transparente em suas relações pessoais). Que não dá pra escapar de esteriótipos, inclusive das visões que se têm sobre o sul global.
Mas também dá pra criticar o racismo e os dilemas acabam servindo pra que os anseios do protagonista se resolvam. No fim, se encaixa. Sem me surpreender tanto, sendo até meio pretensioso. Sem ser fantástico, mas sendo prazeroso e clichê. E, sobretudo, uma boa estreia para Rudy Mancuso como diretor, além de ter sido protagonista e roteirista.