Versão genérica

Ida

Saiu pela manhã como se fosse sábado
Subiu a sabará até o ponto de ônibus
Seguiu em lentidão como se fosse um cágado
Será que era o bastante ter cinco currículos?
Não viu necessidade pro stress no trânsito

Quis abraçar o mundo sem pensar no crédito
A hora se passava como fosse prólogo
Ansiedade em corpo, produção de fábrica
O que posso fazer pra ter futuro próspero?
Ao menos a distância era só um veículo

Queria estar na cama deitado com Bárbara
Um calor me subiu como se fosse o término
São Paulo abafou seu som duplo baiônico
Ninguém sentou consigo, sentiu como pútrido
Achou interessante ouvir budejo bíblico

Um caos bem instalado em plena transamérica
A calma evaporou como se fosse alcoólica
Queria minha rotina tão ritualística
Saí do meu conforto por tantos quilômetros
Perdeu concentração ouvindo o diálogo

Ainda não pensou sobre toda logística
Mas a volta pra casa é um problema ínfimo
Saudade bateu mesmo por sabor nipônico
Saí de casa sem sequer um frango cúbico
Mas sei que é impossível retorno necrótico

Queria um motorista um pouco mais enérgico
Que fosse diferente a fluidez do tráfego
O carro tá parado mesmo sem solícito
Mas engarrafamento é quase automático
E as convenções da vida são apenas plástico

Queria se encaixar, mas lhe revolta o código
E quem a lei infringe parece satânico
A faixa é exclusiva, mas não mostram ética
Baixa velocidade faz crescer o pânico
Não tem mais nem ouvido pra papo político

Voou pela direita como fosse pássaro
Acelerou não vendo nem o velocímetro
Pulou toda a distância como fosse próximo
Deixou pra trás aquele impasse caótico
Aliviou a sensação de clima bélico

Lembrança lhe bateu como uma cura médica
Andou reta final como se fosse o único
Chegou em seu destino como milionésimo
São filas e mais filas sem motivo válido
Uma multidão que implora através de cânticos

Admirou com os olhos todo o centro histórico
Tentando suportar cheiro de mijo e vômito
Ao menos esperar não era claustrofóbico
Apesar do passo quase labiríntico
A fila é uma serpente enrolada em círculo

Um monte de concreto que tem berço e hóspede
Reforma por reforma pra lugar inóspito
Locomotiva com pensamento retrógrado
Violência diária sem fazer inquérito
Viver a vida aqui é desafio mórbido

Questiona sanidade em pensamento etílico
Não confiou nos outros com gritos histéricos
Manteve o passo firme, confiante e cético
Maior problema agora é de ordem climática
Queria uma mudança para um clima nórdico

Aceito até mesmo solução elétrica
A sombra inteira muda todo o calor trópico
A mente ativada em desafio frásico
Todos os pensamentos proparoxítonos
No pavilhão eu rezo por destino cármico

Espera se delonga como um passo fúnebre
Um espaço pequeno pra tanto munícipe
Cansaço se acumula como fosse o cúmulo
Quando a demora é longa, atendimento é rápido
Retorno para casa em um caminho idêntico

Ignorando dores entre tantas vértebras
Só olhe para o lado se tiver estômago
A classe média resolve tudo com fígado
O centro da cidade em abalo sísmico
Se viram no espelho, eles são facínoras

Continuação: Volta